domingo, 10 de março de 2013

Uma Quaresma "light"?


          O IV Domingo da Quaresma é conhecido com o nome de "Laetare": é a primeira palavra da Antífona de Entrada indicada pelo Missal Romano - "Laetare, Jerusalém" "Alegra-te, Jerusalém!" (cf. Is. 66,10-11). Este domingo é conhecido por ser um dos únicos dois em que na Liturgia Romana é permitido o uso da cor litúrgica Rosa. Em nossos tempos, porém, isso poderia ser compreendido como uma espécie de "Quaresma light": uma atenuação da penitência quaresmal, uma redução do "rigor" desse período. Será assim de fato?
          A tradição ocidental - e talvez mais ainda a cultura íbero-latinoamericana - marcou a caminhada quaresmal como um tempo de profunda penitência e compunção pela Paixão de Jesus: é tempo de contemplar a Cruz e os Instrumentos da Paixão, de chorar as culpas do pecado e, de joelhos e coberto de cinzas, pedir perdão. O roxo, cor que recobre até mesmo as imagens e cruzes a partir do V Domingo, está sempre a lembrar que é tempo de austeridade, de penitência. Utilizar o róseo a meio-caminho parece, portanto, algo inapropriado.
          A Quaresma, entretanto, não é bem um tempo de "dolorismo". São Bento, na sua Regra, falava de vivê-la na "alegria do desejo espiritual", aguardando a Santa Páscoa. É um tempo de penitência e conversão que não se encerra nas lágrimas de arrependimento e dor aos pés da Cruz, mas nas lágrimas da alegre e exultante proclamação: "O Senhor Ressuscitou!". Não é, portanto, um tempo fechado em si mesmo, mas aberto para a Manhã da Páscoa.
          O IV Domingo da Quaresma, portanto, não é bem uma diminuição da austeridade do tempo litúrgico: é um sinal - mais, um sinal fortíssimo e eloquente - do que está por vir! Em meio às cinzas, às cruzes, à ausência de flores e de instrumentos musicais festivos, à monotonia "gélida" da cor roxa, surge de repente um botão de esperança que aponta para o amanhã: em breve estaremos na Páscoa, o mundo se transformará num grande jardim!
          No hemisfério norte a estação da Primavera está se aproximando: a Páscoa é celebrada no domingo após a primeira lua-cheia da primavera. As roseiras começam, por volta deste IV Domingo, a florir e, por isso, os cristãos tinham o costume de presentear-se com as primeiras rosas da estação. Ao longo dos séculos, em Roma, foi acrescentado outro costume: o Papa abençoava uma Rosa de Ouro, que entregava como sinal de distinção e estima. Este costume é conservado até hoje e a Rosa de Ouro é oferecida, geralmente, aos insignes santuários marianos.
          A liturgia deste IV Domingo e a cor que o caracteriza nos apontam, portanto, não para uma vivência "light" da Quaresma, mas para o seu mais profundo sentido: aproxima-se o dia da nossa salvação, quando as trevas do mundo serão vencidas, quando a morte será sepultada definitivamente, e o Senhor da Vida transformará este mundo ferido num imenso jardim!
          Preparemo-nos para a Páscoa do Senhor!


Laersio da Silva Machado

(Para mais detalhes: artigo no blog Ars Celebrandi)

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